dinheiro que não vem pra cá

2013 m. gruodžio 5 d., ketvirtadienis

DAS PALAVRAS DE GONÇALO EANES SÓ ARES DE BANDARRA E DA ANÁLISE DOS SEUS GRÁFICOS DA AULA MAGNA CREMOS EM DEUS UNO OU TRINO E EM DOM SEBASTIÃO QUE VIRÁ NUM RIO DE NEVOEIROS LÁ DAS BANDAS DO PORTO OU DE PISA UMA PÔRRA QUALQUER COMEÇADA COM P....VENDEM-SE BILHETES PARA ASSISTIR À CHEGADA DO PRÓXIMO CANDIDATO A DOM SEBASTIÃO -AVISA-SE TODO O CANDIDATO QUE TEM DE FAZER ANTES DOUS TESTES DO PRIOR DO CRATO

Os poetas aproveitando o famoso ridículo compozeram picantes satyras, sendo das mais notáveis os dois sonetos que transcrevemos em seguida, o primeiro de Miguel Tibério Pedegache
Brandão Ivo, coronel do 1º regimento de infanteria de Elvas, e o segundo de Bocage, poeta do deserto sadino...

Acredite sentado aos, quentes lares
Nas noites invernosas de janeiro,
Lendo em Carlos Magno o sapateiro
 As proezas cruéis dos doze pares.

Creiam que vem as bruxas pelos ares
A chupar as creanças no trazeiro; ,
.:, Comam quanto lhe diz o gazeteiro
De casos de successos singulares.

Porém que uma beata amortalhada,
Com a cara vermelha, ô corpo mole,
E santa por um frade apregoada:
Que respira, que os braços desenrole ,

E seja por defunta acreditada!
Isto somente em Évora se engole!
Não te censuro a ti, plebe insensata *
A van superstição não te crimino,

Foi natural, que o frade era ladino,
E esperta em macaquices a beata.
Crimino o velho heroe de bola chata
Que, na escola de Marte ainda é menino
 Crimino o fátuo pastor, pastor sem tino,
Qué tão mal das ovelhas cura e trata.

D. José António Francisco Balthazár Domingues da Costa, marechal e goveínádor da praça de Évora e commandahte do regimento de cávallaria da mesma cidade, e que por morte de seu irmão veiu depois a ser 6.” conde de Soure,foi, com sua filha bastarda, D. Maria José, dos primeiros, que beijou’ 3 pés á,
supposta santa, tocando os lenhos nas chagas e recebendo da defunta abenção.
Este D. José nasceu a 3 de maio de 1726 e falleceu â 24 de janeiro de...


Item condemno o respeitável Cunha*
Que a frias petas credito não dera
A philosopho ser, como suppunha;
Coitado ! Protestou com dôr sincera
Fazer geral contrita caramunha,

Porém ficou peor que d ‘antes era.
Para o convento dos Remédios de Évora vieram depois frades de comportamento exemplar, e entre elles Fr. José de Santa Dorothea, que escreveu o seguinte soneto em defeza das ordens
religiosas :

Se por haverem frades de impiedade
Se devesse aniquillar o seu estado
Império, sacerdócio e magistrado
Extinctos deviam ser na reahledade.

Existe em toda a parte a iniquidade
Houve um Judas no sacro Apostolado;
E nos anjos, que Deus tinha creado
Um Lúcifer, que é chefe da maldade.

Malignos estadistas, se intentaes
Ver nos religiosos permanente
A virtude dos anjos immortaes
Era preciso, que elles certamente.
 Depois de deixarem a pátria, bens e pães
Deixassem de ser homens juntamente.

António da Cunha Souto Maior  então sargento-mór do dito regimento,
foi também um dos venturosos que beijou os pés á santa comba dão

DOMINGAS VAZ E MARIA MANUEL
D. António Luiz da Veiga Cabral da Gamara, sendo abbade de Mofreita,foi eleito bispo de Bragança em 8 de fevereiro de 1792.
Era irmão de Francisco António da Veiga Cabral da Camará Moraes Pimentel, governador e capitão general do estado da índia, onde se portou cobardemente quando os inglezes incompetentemente occuparam Goa, e que depois no Rio de Janeiro foi agraciado com o titulo de 1.° visconde Mirandella!
O referido bispo com mostras de philantropia fundou dois recolhimentos um em Bragança — Nossa Senhora do Loreto — para viuvas e órfãs, que a rainha D. Carlota Joaquina muito protegeu,
e outro na freguezia de Mofreita para donzellas.
Em 1796, na mesa da inquisição de Coimbra, houve denuncia de que n^esses recolhimentos se praticavam actos menos dignos e condemnados pela religião christã.
Diziam-se coisas maravilhosas que alli se passavam, como o apparecimento do Menino Jesus e de
Nossa Senhora, de anjos e outros personagens celestes, estando as recolhidas em extasis, onde recebiam revelações, nas mãos e no lado, produzindo milagres, apesar das perseguições do demónio; e que n’estes phenomenos sobrenaturaes andava envolvido o prelado.

 A accusação dizia ser tudo fingimento,e a embustice foi desmascarada.
No processo depozeram 84 testemunhas e algumas disseram que o bispo especialisava muito as dua’s regentes dos recolhimentos, Domingas Vaz e Maria Manuela, inculcando-as como mulheres
de maior virtude, chegando mesmo a desconfia-rem não ser espiritual a causa da preferencia, pero .grande intimidade que havia entre as duas mulheres e o bispo, estando fechadas com elle horas
n’um quarto do recolhimento, e outras vezes em casa do prelado.

O Santo Officio, com auctorisação regia, mandou prender as duas regentes, e para esta diligencia foi coadjuvado pelo commandante militar que lhe forneceu a força sufíiciente para cercar OS recolhimentos.

Perante o tribunal recusaram confessar a verdade; mas depois rigoroso cárcere Domingas Vaz declarou serem falsos os extasis,apparições e todas as maravilhas apregoadas, que vivera largos annos com o bispo em matrimonio espiritual, tendo também relações com um mancebo, de quem tivera uma creança, que estrangulara,dando a paternidade ao prelado.
Maria Manuela não só confirmou as intrugices dos milagres; mas entre outras torpezas disse que
tanto ella como Domingas Vaz viviam maritalmente com o bispo, na melhor armonia; que D. António ouvia-as de confissão, absolvia-as e dava-lhes a sagrada communhão!
Verificou-se mais que duas mulheres recolhidas estavam também amancebadas com ecclesiasticos, confiadas na doutrina de não serem peccaminosos taes actos
«com pessoas espirituaes !
O bispo em varias cartas aos inquisidores affirmava a grande
virtude d’aquellas ovelhas, negando por ultimo competência do tribunal para a prisão e julgamento, jurisdição que só lhe pertencia
a elle como seu prelado.
A inquisição condemnou-as a açoites com pregão, reclusão por
sete annos, abjuração, penitencias espirituaes e instrucção.
O inquisidor geral dirigiu um memorial á rainha D. Maria I,
«m agosto de 1798, reclamando severo castigo para o bispo de
Bragança, principal auctor de taes crimes. * No mesmo anno D.
António foi chamado a Lisboa, onde se conservou, morando em
diversos bairros, dando muitas esmolas e com fama de fazer muitos milagres, tendo sempre grande ajuntamento de povo á porta.
O governo para acabar com o ridículo d’este escândalo mandou
recolher o bispo no convento de S. Vicente, com prohibiçao de
sahir e de communicar com pessoas que não fossem de reconhecida probidade.

Em 1807 Junot transferiu o bispo santo, como lhe chamava o povo, para o convento de Alcobaça: dois annos depois passou para o convento de Carnide dos carmelitas descalços; e em 1811 veiu
^
Bibl. Nac. de Lisboa. Collec. de sentenças da inquisição, tom. 11 in fine

ordem do Rio de Janeiro para ser restituido ao seu bispado, onde
se conservou até 1814. Novos desatinos e torpesas, conjunctamente
com os seus capelães, obrigaram o governo a mandal-o para o Bussaco, mas em 18 18, por influencia do Núncio Cardeal Paca, foi novamente para a sua diocese, investido das funcções episcopaes!…
Morreu a i3 de junho do anno seguinte, sentado na cadeira em
que dormia. Chegou a andar treze mezes com a mesma camisa,
que só mudou por os parasitas o não deixarem resar, e comia uma
só vez ao dia, sem hora determinada.


PROPHECIAS
O BANDARRA
i54i
A prophecia é filha do mysterio, e o propheta o escolhido pela
providencia com o privilegio especial de desvendar o futuro. Di-
zem as escripturas que as continuas orações é que produzem esse
dom divino.
A biblia chama pythonisas ás mulheres adivinhas, as quaes
eram conhecidas entre os romanos com o nome sfbillas, tornan-
do-se algumas bastante celebres e muito respeitadas pelo povo.
Aristóteles julgou-as inspiradas por Deus e Santo Agostinho pelo
Diabo.
Em Portugal tivemos o medico do paço Ayres Vaz, christão
novo, que se entregou muito ao estudo da astrologia judiciaria,
chegando a fazer a el-rei D. João III diversas predicç5es politicas; e
por occasião de um eclipse prophetisou a morte próxima de um prín-
cipe, como de facto se realisou, a 29 de abril de 1439, em D. Filippe,
que contava seis annos de edade. Os seus vaticínios astrológicos
levaram-n’o aos cárceres da inquisição, onde o processaram;* e se
* O processo existe no Arch. Nac. da Torre do Tombo, e tem o n.*» 17.749
da inquisição de Lisboa.
— 134 —
não fosse a grande protecção do núncio apostólico Capo di ferro^
que acreditava na influencia dos astros e nas predicções astrológi-
cas, superstições que então dominavam em Roma, inclusive no
próprio papa, o pobre medico não escaparia de ir ao auto de fé.
O dr. Ayres Vaz foi em seguida chamado pela cúria romana para
se justificar; e Paulo III não só o absolveu mas tornou-o seu com-
mensal e familiar, identificando-se assim pelos estudos e crenças,
expedindo uma bulia escusando-o da jurisdição dos inquisidores,
assim como a todos os seus parentes, por mais afastados que fos-
sem, e até aos advogados que o haviam defendido perante o tri-
bunal da fé. *
N’este capitulo apresentamos ao paciente leitor três artistas
beneméritos, os quaes sem sciencia nem lettras e unicamente pelas
virtudes e dedicação civica, tanto mereceram dos seus contempo-
râneos, engrandecendo pela extrema m.odestia a burgueza tripeça
com o dom dos antigos augures, e tornaram-se, em relação á po-
litica do seu tempo, verdadeiras glorias da pátria.
A tripeça, tripus dos gregos e romanos, figurou com impo-
nente explendor desde a mais remota antiguidade. A celebre Py-
thonisa, que no templo de Apollo em Delphos transmittia os orá-
culos dos deuses, estava sentada na tripode mascando folhas de
loiro, e nos grandes sacrificios figurava sempre a tripode sagrada.
No christianismo temos dois entes virtuosos, que exerceram a
sua democrática profissão na tripeça: foram os irmãos S. Crispim
e S. Crispiniano, celebrados pela egreja a 25 de outubro, que tão
honestamente exercitaram o officio de sapateiros dos pobres, e hoje
são os patronos da prestimosa classe, incumbida de proteger os
pés da humanidade.
Os sapateiros de Lisboa tiveram jazigo privilegiado na egreja
do ex-convento de Santa Anna, e com os seus restos mortaes se
confundiram os de Luiz de Camões, uma das maiores glorias de
Portugal,
1 A. Herculano, Deu origem e estabelecimento da inquisição em Portugal^
tom. II, pag. 221 e 341.
— 135 —
Gonçalo Annes, o Bandarra, foi um prophetico sapateiro, de
que a villa de Trancoso terá de se ufanar eternamente, pelo contar
no numero dos seus mais estremecidos filhos. E para lamentar a
ignorância do seu dia natalicio e o nome dos seus progenitores.
Estas lacunas históricas consideram-se hoje irremediáveis; restando
como conforto algumas das trovas populares de mestre Gonçalo,
e as noticias authenticas dos seus infortúnios, pois os seus lábios
beberam na taça das amarguras, onde o fado obriga a ir os gran-
des génios afinar as cordas da lyra.
A misera profissão de sapateiro remendão não lhe creou emu-
los; mas as redondilhas propheticas, tornaram-se tão populares e
applaudidas, que os zoilos não cessaram de lhes chamar attentados
contra a egreja.
Gonçalo Annes, como poeta inspirado, não tirava os olhos do
futuro, descuidando-se do presente, e por isso não viu as margens
do precipicio.
AfFonso de Medina, desembargador da Mesa da Consciência,
andando em correição pela comarca de Évora, recebeu a denuncia
das artimanhas poéticas, e, ardendo no santo fogo da fé, armou a
esparrella ao misero trovador, que, em 1541, cahiu nos cárceres da
inquisição.
O pobre Bandarra foi accusado de ser amigo de novidades,
causando com ellas alvoroço entre os christãos novos, a quem fa-
lava do talamon e do Messias: ser mau explicador do psalterio
e da biblia, compositor de trovas, etc. O manuscripto que Heitor
Lopes havia mandado tresladar em boa lettra estava em poder dos
inquisidores, e no processo vem transcripta como amostra a se-
guinte oitava:
Um grande leão se erguerá,
E dará grande bramido;
Seu brado será ouvido,
A todos assombrará;


Correrá e morderá
E fará mui graves damnos,
E nos reinos africanos
A todos sugeitará.
Mestre Gonçalo saltava assim pelas raias da sabedoria hu-
mana, e devassava como se fora grande theologo, os segredos do
futuro e da sagrada escriptura.
As testemunhas accusatorias achavam-lhe também engenho
sobrenatural, e o próprio sapateiro admirava-se de ter tanta veia
de fa\er trovas, que dizia graciosas, em louvor de Deus e de el-rei.
O Bandarra, apesar de ser sapateiro de correia, lia no evayi-
geliorum e na biblia, interpretrando esta de modo que muito sa-
tisfazia os christãos novos, e por isso repetidas vezes era consul-
tado por elles sobre a significação de algumas palavras de sentido
duvidoso, que vinham nas suas trovas. Foi esta a accusaçao mais
importante que lhe fez o santo officio, e para prova dos factos in-
criminados, se transcreve uma carta de Francisco Mendes* que
por ser curiosa aqui publicamos textualmente:
«Senhor: Depois que me de vossa mercê e vista apartey crede
que me pesou muito deixar-uos tam asinha, que segundo o contenta-
mento que de vossas cosas tomey e me fora dado, toda minha
vida andara em vossa companhia, determiney de uos escrever se-
nhor esta pêra por ella uos pedir de merçe me mandes ocupar em
alguma cousa que ho eu syrua, porque certo ho meu desejo pêra
hisso seria grande: a uossa obra me faz tam ledo cada vez que a
leo que não me lembra outra cousa, porque segundo meu fraco jui-
zo, todas uezes me parecem serem como de homem cheyo de graça:
peço-uos senhor que, pêra que eu saiba que de mim uos ficou lem-
brança, que me esprevaes duas regras, em as quaes me façaes
mercê de me mandar a declaração do nome de boçara e asy do
uermelho que mouestes em quaestão, pois mo ja temdes prometido:
e asy me fará muy aisna mercê mandar-me a declaração daquella
troua que diz pêro de frias
em campo de venezeano
se dará tam gram batalha
que antre turcos e xpianos
crescera clarins y malha:


morreram nel disbarate
los dozemtos mil xpãaos
y sem numero paganos:
ho Rey dará xaque e mate

e ysto mostra que será no campo venezeano e uos senhor mos-
traes em uossa que o turco se Retreera e o emperador lhe tomara
a terra: peço-uos que disto me mandes a certeza: também diz o
mesmo pêro de frias noutra troua adiante esto será ai mes doutubre
esta espritura nam erra
averá la vitorja em guerra
hum Rey que não se decubre
também folgaria de saber se está certo njsto e quall outubre este
será. E assy (que) Rey será este que elle não quis descubrir. E asy me
fará mercê de ler esta carta que uay nas costas desta que fala no
leujatão e não esteuer muy ocupado mandeme delle reposta, per
que leuarey grande contentamento ver sua declaração nestas co-
sas : e asy me fará merçe mandar-me dizer se estará ahi muitos
dias, por que farey muito polo hir ver e levar-lhe algum refresco
desta terra: não tenho mais que dizer somente fico Rogando a noso
senhor deus sua uyda e honrra acrescente como per elle he dese-
jado: deste setuuall oje sesta fejra seu e mais que seruidor.=fran-
cisco mendes».
Pergunta que está nas costas da dita carta:
«Perguntou ho senhora Job aos R^* (quarenta) capítulos homde
diz do lyujatão, e começa se tiraras, ho liujatão com amzolos, ou ata-
ras a ssua lingoa com corda, ou lhe porás amzolo no seu nariz, ou
lhe furaras a queixada com ponteiro, ou se te acrecentara Rogos,
ou se te falara branduras, ou fará pauto comtygo pêra o tomares
per seruo pêra sempre, ou brincaras com elle como com passarjnho
e atalo as com as tuas criadas. Pergunto, senhor, começando pela
derradeira diga-me que criadas são estas com que ha destar atado
este liujatão, e a segunda como brincarão com ele como com pássaro,
e a 3.* com quem fará pauto pêra o ter per seruo perpetuu, e a 4.*
a quem multiplicara Rogos e falara cousas brandas, e que amzolo
he este com que ho poderão tirar ou pêra que. E mais ho compara
a peixe e que suas escamas são duras e fortes e mui achegadas
humas as outras, e na fim do capitulo diz não ha em a terra cousa

comparada a elle per que he ‘feito pêra que nío tema todalas cou-
sas altas despresara, ele he Rey e sobre muitas companhas grandes
e fortes; he de perguntar por que no principio ho compara a peixe
e depois a homem; também diz no psalmo setenta e quatro tu que-
brantaste as cabeças do liujatão e deste-as em comer ao pouo que
mora no deserto. E também diz ysayas aos xxbij capitulos naquelle
dia visitara o senhor com ha sua espada dura e grande e forte, a
liujatão serpente longa e serpente torta: he de saber que per que
lhe chama serpente e per que diz o senhor que o visitara com a
sua espada dura e forte, treslada (sic) a carta atras e as perguntas
acima per mjm diogos trauaços notário apostólico e da santa in-
quisição que esto verdadeiro treíadey e par certeza asiney.= tra-
uaços.»
No fim do processo ouviu ler a seguinte sentença: «Accordam
os deputados da Santa Inquisição, etc. Que vistos estes autos, e
como por elles se mostra Gonçalo Annes, réu, ser amigo de novi-
dades, e com ellas causar alvoroço em christãos novos, escrevendo
trovas que por falta de declaração se entendiam em outra maneira,
e não segundo boa tenção, dando outro sim declarações a muitas
auctoridades da sagrada escriptura e respostas de senielhantes cou-
sas, sem lettras, o que não carece de suspeita, com o mais que
pelos autos se mostra, havendo-se porém respeito á qualidade de
sua pessoa, vida e costumes, mandam que publicamente declare
sua tenção acerca das trovas que tem feito, segundo se lhe dará
por apontamento, e que d’aqui por deante se não intrometta mais
a responder nem escrever em nenhuma cousa da sagrada escri-
ptura, nem tenha nenhuns livros d’essa mesma, salvo sendo o Fios
sanctorum ou Evangeliorum somente: e fazendo o contrario será
castigado como o caso merecer, e se publicará que qualquer pes-
soa que tiver as ditas trovas as apresente á Santa Inquisição dentro
de três dias que vier á sua noticia e o poder fazer. O bispo de
Angra, Fr. Georgius de Sancto Jacobo, Antonino, Didacus, JoáQ
de Mello, Mendus.»
Esta sentença tornou a ser lida no cadafalso da Ribeira, a %\
de outubro de i54i, no segundo auto de fé que se fez em Lisboa,
estando Gonçalo Annes com a vella na mão e tendo depois por
consolação o sermão de Fr. Luiz Montoyq.*
* Arch. Nac. da Torre do Tombo. Processos da inquisição de Lisboa^ n.^
7297.
—13a—
No mesmo auto de fé figurou também outro notável sapateiro,
Luiz Dias, o celebre Cal{olaro, christão novo, natural de Setúbal,
onde dizia ser o Messias e o miesmo propagava por Lisboa. Na in-
quisição provou-se que com improvisados milagres e feitiços levava
muitos judeus a acreditarem-n’0, beijando lhe a mão em adoração,
e com elle haviam exhorbitado alguns physicos e lettrados, homens
tidos em boa reputação.
O Calzolaro continuou com a mesma mania, a inquisição encarcerou-o, e em 1542, no auto de fé que teve logar em Évora, mandou-o assar na sacra fogueira. *

Gonçalo Annes, o Bandarra, não nascera para tão terríficos
espectáculos. As carochas e sambenitos dos condemnados, e as
chammas das fogueiras aperravam-lhe o peito como se estivesse
nas encospias; os farricocos dos familiares faziam lhe iriçar os ca-
beça como picadas de sovellas, e o calor do fogo sagrado fazia-o
tritar de frio com batedura de queixo.

Valeu-lhe a compostura dos seus costumes, e a contricçao com
que comprometteu a sua palavra honrada na futura emenda e até
em deixar de fazer trovas!
O sagrado tribunal acreditou o sincero arrependimento, ordenando aos possuidores das trovas do Bandarra que as entregassem
na inquisição, e impoz ao convicto a leitura do Fios sajictorum 
Estes livros eram da leitura mais amena e recreativa da bi-
bliotheca da santa inquisição, e mestre Gonçalo, depois de se achar
solto, reconheceu haver promettido mais do que podia. O dom do
vaticínio poético nascera com elle, — e o que o berço dá só a cova
o tira.
^ No processo faz-se referencia a physicos e lettrados : dos primeiros era o
medico do cardeal infante D. Aífonso, Francisco Mendes, de Sy annos de edade,
que foi também á fogueira no mesmo dia por acreditar nas patranhas de Luiz
Dias. O lettrado era Gil Vaz Bogalho, christão velho, desembargador da casa
do civil, homem bastante edoso e quasi cego, que esteve preso pelo mesmo crime,
nas inquisições de Lisboa e Évora, desde i538, accusado também de ter tras-
ladado do hebraico os cinco livros de Moysés, Josué, etc. Foi lançado ao fogo
na praça de Évora a 20 de dezembro de i55i. No auto de fé em que foi quei-
mado o Calzolaro, soíTreu egual martyrio outro sapateiro, conhecido pdo judeu
do sapatOf que havia vindo da índia para Portugal inculcando-se também pelo
Messias esperado. Tinha estado no Eufrates, onde se dera a conhecer, e onde
todos o acreditaram. Depois de preso e instado pelos tormentos confessou a
verdade, declarando ser christão e que se havia servido de tal embuste só para
ser considerado e estimado.
A tosca tripeça era o seii parnaso, e as tombas as suas musas:
quando os pinos picavam o sublime estro no caco do vate, sabiam
dos grossos lábios as rimas medidas com o tira-pé encerolado,
assim:
Com o cerol encero o linho
Puxo com torquez o couro
Gasta-se todo o thesouro
Pêra abrir novo caminho.
Muitas vezes parecia inspirado e insensivelmente declamava:
Meto a sovella na vira
E vejo pelo buraco
Os ossos de Pêro Jaco
No penedo da mentira.
A rima sahia-lhe mui naturalmente.
O sapateiro, homem de lettras gordas, não primava na calli-
graphia, como se prova pela sua assignatura, existente no final do
interrogatório que lhe fizeram no Santo Officio, cujo fac-simile para
gloria nacional aqui apresentamos.


Heitor Lopes copiou o original em boa lettra e desde então
as trovas correram urbi et orbi.
Hoje nem o local onde repousam tão preciosas cinzas conhe-
ceria o luso, se D. Álvaro de Abranches da Gamara com zelo pa-
triótico não descobrisse a sua sepultura {si vera^est fama) no al-
pendre da egreja de S. Pedro da villa de Trancoso, e para trans-
mittir á posteridade a sua memoria, não mandasse alli ^collocar
uma lapide com a seguinte inscripção, encimada com os instru-
mentos do officio de sapateiro:
AQUI JAZ GONÇALO ANNES BANDARRA, QUE EM SEU TEMPO
PROFETISOU A RESTAURAÇÃO DESTE REINO, E D. ÁLVARO DE
ABRANCHES LHA MANDOU FAZER SENDO GENERAL DA BEIRA, AN-
NO DE MIL SEISCENTOS E QUARENTA E HUM.


O sapateiro já havia vaticinado este facto nas suas trovas
Vejo, mas não sei que vejo,
O certo he que me cheira,
Que me louvar á Beira
Um grande pé do Tejo.
Formas, cabos e sôvelas
Lavradinhas com primor
Mandareis abrir, Senhor:
Muitos folgarão de vel-as.

Bandarra mesmo depois de morto teve detractores, que se não
contentaram só com o deprimir, chamando-lhe analphabeto, negan-
do-ihe a paternidade das trovas. . . e chegando a dizer que nunca
existira!… O inquisidor geral D. Verissimo de Alencastre man-
dou, até, apagar o epitaphio da campa, que lhe havia inscripto D.
Álvaro de Abranches.
Os seus versos tinham certo tom prophetico, que, mais tarde,
os novelleiros apropriaram á perda de D. Sebastião nos campos
de Alcacer-Kibir, á occupaçao de Castella, e á restauração de 1640.
Os stbastiamstas que não accreditavam na morte do seu muito
presado rei, fundados na certidão authenticada pelos capuchos,
aguardavam impacientes a sua chegada, em dia de nevoeiro, vindo
de uma ilha deserta, montado n’um cavallo branco, á frente de nu-
meroso exercito, e derrotando as tropas de Filippe não só resga-
taria Portugal, mas conquistaria a Hespanha. Tudo isto estava
claro como a cal nas propheticas trovas.
Acclamado D. João IV, alguns visionários ou especuladores
mudaram os vaticínios para este famoso acontecimento, e assim
o escreveu o jesuita João de Vasconcellos, com o nome supposto
de Dr. Gregório de Almeida na Restauração de Portugal prodigiosa. *

 D. João IV fez mercê a Miguel Dias Bandarra da administração da capella instituida por Anna Madr.» Ramalho, na freguesia de Santa Maria deIdaes, em Felgueiras, termo de Guimarães, que estava vaga pela morte de António Correia, com obrigação de cumprir os encargos e fazer tombos dos bens.
Não diz o motivo da graça n’csta carta datada de 20 de maio de 1642 —
 mas
em outro documento — diz que foi em attenção a ser descendente do sapateiro-propheta Bandarra.

As trovas do Bandarra tinham o condão de se afnoldarem facilmente a diíferentes factos, e os especuladores as foram augmentando e mesmo inventando para explicarem o que melhor convi-
nha a seus fins políticos. A lenda sebastica constituiu assim uma
verdadeira seita, chegando alguns prosélitos até meados do presente século! Os pobres fanáticos esperavam resignados o advento
do encoberto como o de um redemptor, alongando a vista no alto
de Santa Cathanna. . . mas sem consiliabulos nocturnos, nem ma-
nifestações coUectivas. Tudo pura crença, cujo cathecismo eram as
trovas.
Seria longo relatar as especulações que depois se fizeram com
as trovas apocriphas, que attribuiam a indivíduos fallecidos havia
séculos, e a outros que nunca tinham existido. Os santos tiveram
importante papel, considerados auctores de taes improvisos, como
foram S. Egidio, S. Isidoro arcebispo de Sevilha no iv século, S.
Frei Gil, S. CyriUo, S. Methodio, S. Theotonio, o beato António,
S. Thereza, S. Leocadia, etc.
Menos santos, mas não menos prophetas, inventaram o Preto
do Japão, as visões da madre Leocadia da Conceição, D. Benta de
Aguiar, o Donato de Monsarrate, o Mouro de Granada, o ourives
de Braga, Fr. João da Barroca, e outros religiosos, ermitões, ro-
meiros, além de numerosos anonymos. * Até a filha de Priamo,
morto na destruição de Tróia, não deixou de prophetisar a vinda
de el-rei D. Sebastião!!!
Desenvolveu-se a mania das trovas propheticas, que diziam
terem apparecido quasi todas em paredes velhas quando se re-
^ Na Bibliotheca Real da Ajuda existe um livro manuscripto onde estão copiadas grande parte das taes prophecias e teem os seguintes titulos : i .° “Versos que
vieram com a espada de el-rei D. Affonso Henrique^ que T). Sebastião levou para
Africa^ e foram entregues por pessoa desconhecida, na noite de 6 de setembro de
i578, na portaria de Santa Cru:^ de Coimbra. 2° Trovas de Bandarra. 2.” Tro-
vas que se acharam a el-rei D. João III em que se incluem as prophecias do Beato
Antodio. 4.° Prophecias de S. Egidio. 5.» Prophecias achadas no collegio da com-
panhia ‘n’ã ilha da Madeira. 6.<* Prophecias de S. Isidoro. 7.° Prophecias do mouro
Abel-NubííCo. 8.° Vaticínios do arcebispo 1). Miguel de Castro, g.*» Trovas ou dispa-
rates do 'Preto tio Japão. 1 o.'^ Prophecias de S. Fr. Gil. 1 1 .'' Prophecias dadas por um
mouro de^OranadU. il.'^ Relação de S. Therei^a. iS." Vctticinios feitospelo religioso
Aragonej. 14.'' ^aticinios feitos por Fr. Rodrigo., capuchinho. i5." Cantigas feitas
por um romeiro a el-rei D. Sebastião. i6.° Prophecia de S. Angelo^^ciírmèlita. ij."
Notáveis vaticínios do ourives de Braga, i ^.""Uersos de el-rei D. Manuel, n g:° Sonetos


edificavam, em espólios de personagens, ou em sepulturas, além
de outras de que não se sabia a procedência.
Basta o incoherente da linguagem, destoando das epochas a que são attribuidas, para
se reconhecerem apocriphas.
D'estes inventos são auctores os padres, e principalmente os
jesuítas, para certos fins.
O P António Vieira, um dos maiores vultos de Portugal, esteve preso 22 mezes nos cárceres da inquisição de Coimbra, ondelhe instauraram um enorme processo, * e ouviu ler, em presença
dos padres da companhia de Jesus, a sentença condemnatoria comi
a vella amarella na mão, durante duas horas. A sentença, que com-
prehende 48 paginas de lettra miúda, tem a data de 23 de dezem-
bro de 1667; e o crime principal foi haver escripto em data de 2^)
de abril de 1659 as Esperanças de Portugal, quinto império cio
mundoy etc, etc, onde affirma que as prophecias do Bandarra
eram verdadeiras e divinamente inspiradas, e que muitos centos
de annos antes da ultima e universal resurreição havia de apparecer certo príncipe de Portugal para ser imperador do mundo e lograr grandes victorias, etc.

Apesar de tudo as prophecias de Gonçalo Annes, manuscri-
ptas ou impressas, sempre augmentadas, peregrinaram debaixo
do ferragoulo desde a cabana do jornaleiro até ao salão senhorial,
sem receio do Index librorwn prohibitorum de i58i (a pag. 23)
cerrar as portas do céo com excomm unhão latae sentenciae, lan-
çada pelo arcebispo de Lisboa, D. Francisco de Almeida, ás pes-
sem aiictor. 20.° Prophecias da Sybilla Erictrea. 1 \ ." Prophecia de S. Leocadia que
se acharam na sua sepultura quando a trasladaram em 1 587. 22. <» Vaticinios do santo
ermitão de Mnnsarrate que falleceu em 1624. 2 3." 'Vaticinios de Heronimo Basílio
que se acharam em \(ò'òC^ no Algarve debaixo de uma pedra, dentro de um canudo do
tempo dos romanos, escriptos em pergaminho. 24.* Vaticinios de um santo ermi-
tão do ermo. 25." 'Vaticinios de Faria^ insigne vaticinador de Hespanha e com-
mentador de S. Isidoro. 26." Lamentações de P. Fr. João de Rocaselsa. il.^ Va-
ticinios de um romano ermitão. 2^."
Trovas proferidas por uma profiss.: cm 1677no Rio de Janeiro, obrigada dos exorcismos que lhe fazia um santo sacerdote. . .
29." Prophecia do admirável ermitão Martinho de Zadek, natural da Helvécia.,
impressa segundo o original em 1770.
. ° Trophecias de S. Methodio no seu
livro das visões, cap, 27. 3i." ^Prophecias de Manuel da Gaia. 32.° 'Prophecia que
se achou no cartório do Mosteiro da Batalha., do P. Fr. Vicente de Christo.
1 Existe no .Afrchivo Nacional da Torre do Tombo, ifiquisiçáo de Coimbra, tem o n." 1664.


Pessoas que lessem, possuíssem, trouxessem de fora, ou fizessem imprimir as trovas de Bandarra, sapateiro de Trancoso levavam tautau depois de assarem um bocadinho
A primeira impressão das trovas fez-se por diligencias de D.
João de Castro em i6o3, no formato de 8.° Doeste opúsculo não
conhecemos exemplar algum. Em 1644 foram reimpressas em Nan-
tes a expensas de D. Vasco Luiz da Gama, 5.° conde da Vidigueira e 1º marquez de Niza.
Esta edição é também raríssima.
A popularidade do livro tornou a despertar as iras da inqui-
sição, que lhe fulminou o anathema de 3 de novembro de i665.

Em 1727 a mesma inquisição de Coimbra ordenou que entregas-
sem nas mãos do seu secretario Diogo Furtado de Mendoça todas as chamadas prophecias, como oppostas á religião, declarando
Ímpios os seus auctores e assoadores, e impondo graves penas aos
que assim não cumprissem, e a 10 de junho de 1768 foi a mesa
censória que vomitou implacável ódio contra as trovas do defunto
mestre Gonçalo, condemnando-as de má fé.
As celebres prophecias tiveram vários commentadores, e entre
elles figurou em primeira plana D. João de Castro, neto do grande
vice-rei da índia do mesmo nome, que foi captivo na batalha de
Alcacer-Kibir, seguiu depois de resgatado o partido do Prior do
Crato, e acabou por acreditar na existência de D. Sebastião, e
por i6o3 publicou (em Paris): Paraphrase e concordância de algumas prophecias de Bandarra, sapateiro de Trancoso.
Em 1 5o2 já elle havia impresso na mesma cidade de Paris Discurso da vida
do sempre bem vindo e apparecido Re/ Dom Sebastiam nosso senhor o Encoberto, desdo seu nacimenio tee o presente: fejto & derigido por Dom Joam de Castro aos três Estados do Rejno de
Portugal: conuem a saber ao da Nobresa, ao da Cleresia & ao do
Pouo, 8.° de 35 foi. 1602.
Aiunta do discvrso precedente aos mesmos estados pello mesmo Autor: em a qual os aduirte de como El-Rey de Hespanha se oiiue com El-Ref Dom Sebastiam depois que o teueem poder, 8.° de 35 foi. Estes dois opúsculos, hoje de extrema raridade, foram grandes propagandistas sebasticos.
Outro commentador foi,  António Vieira.
Seguiram-se ainda Fr. José Leonardo da Silva e Fr. António do Carmo Velho Barbosa.
Os vaticínios pela sua elasticidade tornaram-se pau para todaa obra, de maneira que os grandes acontecimentos políticos, que se tem succedido em Portugal, estavam alli previstos e cabalmente
explicados.
Faltando pretexto para as interpretações appareceranci as trovas apocriphas impressas em 1809, 1810, 1815, 1822, 1823 e 52.

Algumas doestas producções são prodigios de engenho na previsão
dos acontecimentos políticos em Portugal nos séculos xviii e xix.
Mestre Gonçalo Annes, o Bandarra, falleceu depois de 1556,pois, dedicando as suas trovas ao bispo da Guarda, D. João de Portugal, que occupou a cadeira episcopal n'aquelle anno, o temos
necessariamente vivo a esse tempo.

O padre José Agostinho de Macedo fulminou a parvoice dos Sebastianistas chamando-lhes com phrases viperinas pobres de espirito, como crentes na versalhada do Bandarra, e não deixou de
haver, ainda n'essa epocha quem os defendesse.
O bom do padre disse que o auctor das prophecias do Pretinho do Japão tinha sido
o padre Clemente Gomes, no reinado de D. Pedro II; das do Mourinho de Granada o padre Manuel de Escobar; da Restauração de Portugal prodigiosa, o padre João de Vasconcellos;
da Historia dé Simão Gomes, o sapateiro santo, o padre Manuel da Veiga;
das trovas do Bandarra o padre António Vieira, etc.
N'este ultimo enganou-se, como deixamos dito anteriormente :
as edições succederam cada vez mais correctas e augmentadas. . .
Os principaes auctores foram padres e. . . jesuítas
Apesar de todos os pesares, mestre Gonçalo Annes, o Bandarra, foi laureado pelo povo, immortalisado pela inquisição, arcebispo de Lisboa, mesa da consciência e ordens, e d'este conjuncto
a tradição fez um mytho.
O typo do propheta popular foi magistralmente aproveitado
por Almeida Garrett na engraçadissima comedia Prophecias do Bandarra. *
Por ultimo os sebastianistas, depois de soffrerem as perseguições castelhanas e os severos castigos da inquisição, cahiram no ridículo.

Parece ter sido o ultimo doestes monomaniacos um cantor
da Sé, chamado Francisco Procopio de Seixas, homem de mediana
estatura, fronte ampla, tendo de notável os olhos de um azul celeste bastante pronunciado.

Era muito religioso, entrando em todas as egrejas, que encontrava abertas, para fazer longa oração, e
na casa que habitava, na rua de Santa Anna, n.° 10, em Belém,
de que era proprietário, conservava uma camará cuidosamente mobilada, com leito de cortinas, esperando que D. Sebastião quando chegasse a Lisboa lhe fizesse a honra de alli se hospedar.
O misero visionário dormia sobre dura enxerga, n'um quarto sem luz
nem ar, despresando todas as commodidades, e affirmava em particular aos amigos Íntimos ter falado duas vezes com o seu realencoberto, sendo uma na quinta de Queluz e outra no Aterro Representada com grande applauso em alguns theatros, e impressa depois em 1880.
.
Depois de muito se penitenciar com vãs esperanças falleceu por 1883
com perto de oitenta annos de edade.


2013 m. gruodžio 2 d., pirmadienis

DAS LETRAS QUE SE PROPAGAM E SE PAGAM EM PROPAGANDAS VÁRIAS

AS CAMPANHAS POLÍTICO-ECONÓMICAS

PROMOVEM A IDEIA DA MORAL EM ECONOMIA

QUANDO PELA SUA NATUREZA A ECONOMIA É A ACTIVIDADE MAIS IMORAL

QUE O HOMO LUDENS OU O HOMO SOVIETICUS ABRAÇARAM

A ECONOMIA MASSACRA AS GENTES  E TRITURA-LHE AS CARNES E OS OSSOS

E É MAIS QUE IMORAL

É AMORAL NOS SEUS MASSACRES

ATÉ A ECONOMIA MAIS ALTRUÍSTA TEM DE ALIMENTAR  A ÉLITE BUDISTA

À CUSTA DA DIETA DOS FIÉIS

QUE SERÃO RECOMPENSADOS ECONOMICAMENTE EM ENCARNAÇÕES POSTERIORES

DAÍ TER COMO SÍMBOLO ECONÓMICO PROPAGANDÍSTICO A RODA

QUE DIGA-SE DE PASSAGEM É UM SÍMBOLO DE SERVIDÃO AO PODER

MUITO MAIS MANSO QUE OS LEÕES BABILÓNIOS

OU AS ÁGUIAS ROMANAS OU OUTRAS SIMBOLOGIAS BICÉFALAS COM PENAS

OU SEM ELAS...DESDE SERPENTES EMPLUMADAS A CULTURAS TOTÉMICAS

COM TABUS ECONÓMICOS VÁRIOS

MESMO UMA CULTURA EM QUE TEM O VERDE DO PROFETA COMO SÍMBOLO

E A NEGAÇÃO DO JURO COMO LEI

A BANCA ISLÂMICA PARTILHA O LUCRO

LOGO NÃO HÁ ECONOMIA MODERNA EM QUE NÃO HAJA SONEGAÇÃO DE RECURSOS

PORQUE O LUCRO DE UNS É SEMPRE O PREJUÍZO DE OUTROS.....

CALHOU-NOS  DESTA VEZ A PARTILHA DOS RISCOS DOS LUCROS DE OUTROS

É ARRISCADO PARTILHAR RISCOS SEM PARTILHAR LUCROS

MAS É NORMAL ACONTECEREM ESSAS COUSAS À PIOLHEIRA

AFINAL HÁ MESTRES E HÁ SERVOS

É A ORDEM NATURAL DAS COUSAS